I musiludens: Congresso Internacional em Música, Mídia e Ludicidade:
O jogo é estrutura recorrente que perpassa as mais variadas culturas humanas (Huizinga, 1990; Caillois, 1961). Suas estruturas, regras, mundos-da-vida e mecânicas fornecem a base para construções sociais que afetam as formas de existir e interagir com o ambiente nos quais os sujeitos estão inseridos, influenciando os processos comunicacionais e as relações que estabelecemos com as mídias que consumimos. Não seria diferente, portanto, com a música. O lúdico e a música estão intrinsecamente conectados nos atos de tocar um instrumento; de passear por diferentes tons durante a criação musical – seguindo os moldes pré-estabelecidos ou ignorando-os completamente, subvertendo as convenções e criando um jogo (Henriot, 1983); de absorver os sons de uma gravação mediada por diferentes artifícios; até o momento de desbunde em que a música ao vivo se transforma em carnaval. Jogar, no entanto, também significa revelar posições de poder: quem decide o que jogamos e se jogamos; quem é o dono da bola; quem estabelece as regras do jogo; e quem pode verdadeiramente escolher ou não jogar.
Ambos música e jogos representam hoje parte importante de um ecossistema midiático voltado para a cultura pop. Os videogames experimentaram um crescimento vertiginoso durante a pandemia de Covid-19, e mesmo antes já há décadas representam uma parte importante da criação de histórias fantásticas, de ambientes de sociabilidade, e comportam uma indústria milionária com foco no entretenimento. As indústrias da música e dos jogos caminham juntas seja utilizando a personalidade de artistas pop para alavancar vendas de videogames, assim como da inserção de faixas musicais em jogos para impulsionar as carreiras de artistas musicais.
Na América Latina, recebendo os produtos dessas indústrias em fluxos desiguais, muitos são os pontos diferentes que ainda merecem investigação aprofundada: a importância da pirataria e da cultura de modding para o consumo de videogames no Brasil, e as consequências que essa forma de consumo traz para o som; as adaptações locais ao conteúdo estrangeiro; e a resistência à influência do Norte Global, na intenção de construir perspectivas que representem melhor a realidade local.
É neste panorama que apresentamos o I musiludens: Congresso Internacional de Música, Mídia e Ludicidade. Convidamos todos os pesquisadores interessados na interseção entre os Estudos Culturais, Estudos da Mídia, Estudo dos Jogos, entre outras áreas correlatas a juntar-se a nós na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, entre os dias 19 e 21 de abril de 2023. A UFF apresenta um ambiente acadêmico ideal para a nossa proposta, sendo a casa do primeiro curso de graduação do Brasil em Estudos de Mídia, assim como dos grupos de pesquisa mediaLudens, focado nas diversas relações entre o lúdico, a cultura e a comunicação, e o LabCult, que se especializa em som, música, entretenimento e tecnologias da comunicação. Entre os palestrantes da nossa programação estão pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, do Chile e da Inglaterra, reunindo assim diferentes perspectivas para pensar a interseção entre música, jogos e ludicidade.